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Bastidores AeC - Luciana Marinho - Vice-Presidente de Operações na AeC

Mães na liderança: Como conciliar a carreira de executiva e a maternidade?

A maternidade é uma aventura tão ousada e árdua quanto a construção de uma carreira profissional de sucesso.

De acordo com um estudo conduzido pela Welch’s, as mães têm em média 98 horas semanais de cuidado com os filhos – o que equivale a ter 2,5 empregos em tempo integral!

As mães enfrentam muitos desafios para entrar e se manter no mercado de trabalho. Mas muitas das habilidades que elas adquirem na maternidade, na verdade contribuem para exercer seus trabalhos. Elas não tem que ser perfeitas, mas dados mostram que se tornam ainda mais preparadas para posições de liderança depois da maternidade.

E é sobre isso que conversamos com Luciana Marinho, Vice-Presidente de Operações na AeC. Num papo muito leve e descontraído, cheio de significado, ela nos contou os desafios para conciliar sua carreira e a maternidade, além de como influenciar pessoas e superar o estigma de mulheres em altos níveis hierárquicos.

Formada em Pedagogia pela UNB, com MBA em Administração e Negócios pela USP, Luciana já acumula 21 anos de atuação em Customer Experience e planejamento estratégico. Chegou na AeC em 2020, e atualmente ocupa a posição de Vice-Presidente de Operações. Ela também participa do Programa Mentoria Mulheres na Liderança AeC, uma capacitação para colaboradoras de nível intermediário com o objetivo de aumentar o número de mulheres em postos de comando. Além de sua carreira, exerce há 8 anos, a incrível “profissão” de ser mãe da Sophia. 

Confiram este bate-papo e inspirem-se!

[AeC] Em que momento sua carreira estava quando engravidou?

[Luciana] Eu atuava como gerente sênior em outra empresa de call center, inclusive, e eles estavam iniciando sua expansão para o Nordeste, no qual fui convidada para assumir toda essa operação em Natal, no Rio Grande do Norte, que seria a primeira unidade deles na região. Eu estava com 30 anos, na ocasião.

Esse foi o primeiro grande conflito que surgiu assim que eu descobri minha gravidez, porque eu havia acabado de assumir esse mega desafio, mudei toda minha vida de SP para o RN, e com isso tive um grande receio de ter que anunciar a gestação justamente nesse momento da empresa. Eu lembro de ter demorado uns 4 meses para informar ao meu líder que estava grávida.

[AeC] E porque você sentiu esse receio?

[Luciana] Eu sempre quis ser mãe, mas sempre achava que não era o momento certo. Acho que esse é o maior dilema das mulheres, encontrar o melhor momento para se tornar mãe. Depois que viramos mães, percebemos que não existe o melhor momento; qualquer momento é bom para viver as dores e delícias da maternidade.

O fato é que a gravidez me pegou desprevenida. Mas, eu precisava encarar isso, independente do momento em que eu estava. Meus líderes na ocasião eram homens, então sempre temos muito receio de como uma gravidez será “encarada”. Infelizmente essa é uma realidade ainda muito presente nas organizações.

Eu ficava desconfortável, porque minha cabeça pensava: “como que eles acabam de me dar o desafio, eu vir pro Nordeste, mudar minha vida inteira, e no 2º mês que eu assumi, anuncio que estou grávida?”. É aquele estigma de que por estar grávida você não vai render o quanto você renderia, tudo isso passou pela minha cabeça.

Mas eu tive a grata surpresa de ao anunciar para meu líder, ele ficou feliz com a notícia, e eu fiquei muito aliviada, na situação como um todo. Lembro de ele mencionar que a maternidade e paternidade são as melhores decisões que a gente pode “tomar” na vida, pois ele também tem 3 filhas mulheres, e me tranquilizou quanto ao fato da minha carreira.

Por isso que, encontrar pessoas e líderes homens, principalmente, que incentivam você a viver esse momento, fez total diferença. No meu caso, talvez, se ele tivesse encarado de uma outra forma, eu não sei se eu teria essa mesma experiência para contar.

[AeC] E como foi retomar sua posição depois da licença maternidade?

[Luciana] Eu nunca entrei em conflito quanto ao meu retorno. Sei que muitas mães vivem esse conflito quando chega o momento de retornar ao trabalho, se voltam ou não, mas para mim isso não existiu.

Sempre entendi que o sucesso vinha de mim, e eu sempre tive paixão e prazer por fazer o que eu faço. Sempre soube que seria mãe e que continuaria sendo executiva. Na verdade, o que veio à minha cabeça, era como conciliar tudo isso.

Por ser pedagoga de formação, não pensava em encontrar uma babá. Minha decisão foi colocar a Sophia no berçário, e assim também acontece com várias mães no Brasil. A gente se culpa um pouquinho, mas entende que é bom para o desenvolvimento deles também. E assim a Sophia foi crescendo. Por causa da minha profissão, ela já morou em várias cidades: Natal, Recife, Salvador e, agora, São Paulo. Ela tem 4 cidades no currículo em 7 escolas, e nem completou 9 anos! (risos)

Então eu percebo que isso contribuiu muito para amadurecer ela também. Ela se adapta muito fácil aos ambientes novos. Optei por tirar as coisas boas desse processo como um todo e parar de sofrer com o “e se”.

Atualmente eu consigo conciliar muito bem, porque conversamos muito, combinamos as viagens, quanto tempo fico fora, e ela entende a minha responsabilidade.

[AeC] Em algum momento dessa sua conciliação de carreira e filha, você teve que escolher entre um e outro? 

[Luciana] Ah, pra mim a família sempre vem em primeiro lugar. Eu tive o privilégio de trabalhar em empresas que entendem muito bem isso, e permitem que eu crie algumas flexibilidades para equilibrar os dois.

Quando a Sophia era bem pequena, eu viajava muito, então me sentia de certa forma culpada. Aí, para ela não sentir tanto, sempre trazia um presente quando eu voltava. Mas percebi que precisava mudar isso, que não podia justificar minha ausência na base da compensação, e sim no entendimento. 

Então comecei a explicar para ela o porquê eu tinha que viajar a trabalho, porque minha presença era importante onde eu ia. Quando comecei a fazer isso e não trazer mais presentes, as coisas começaram a mudar na nossa relação. Ela passou a admirar meu trabalho, o que eu faço e como faço. 

Hoje ela fala, que a “minha mãe dá oportunidade pra muitas pessoas trabalharem”. Porque não é só a questão de trazer o sustento pra casa, ou de oferecer um conforto maior, mas de dar o significado do que você faz, que precisa também ser passado para as crianças.

Então, para mim, é assim que a gente constrói essa relação para que não fique pesado para ninguém. Não é sobre não influenciar uma situação na outra, porque sempre influencia, mas uma coisa não precisa viver sem a outra, e é nisso que eu acredito.

[AeC] Como você entende que a maternidade é vista nas organizações?

[Luciana] Eu li esses dias em um post do Linkedin um dado que me deixou assustada. Mostrava que 65% das mulheres são demitidas da empresa quando retornam da licença maternidade. E isso é muito triste!

Eu tive a sorte, digamos assim, de atuar em empresas que entendem e corroboram com esse papel da mulher na sociedade. E isso é tão importante, porque a decisão fica exclusivamente para a mulher, o poder de decisão fica só com ela.

Mas também, vejo que nós mulheres precisamos, cada vez mais, nos posicionarmos. A gente não pode se anular ou simplesmente aceitar o fato do “sempre foi assim”. Num ambiente predominantemente machista, quem vai mudar isso são as mulheres mesmo, saindo do inconformismo e sendo as agentes da transformação. 

Claro que é importante as empresas darem a oportunidade para que as mulheres possam mostrar que elas podem continuar performando e entregando resultados mesmo depois da maternidade.  

E, digo mais. Minha vida ganhou muito mais propósito depois de ter me tornado mãe. Eu costumo pensar o “por que eu fazia tudo o que fazia antes dos 30”? que foi a idade em que engravidei. Eu trabalhava que nem louca, mas por quê? Qual era o grande objetivo? Hoje eu não tenho dúvida do porque eu faço o que eu faço, eu sei exatamente qual é o meu objetivo, porque tenho certeza que eu faço o melhor pela Sophia, para que ela enxergue em mim uma referência.

E é incrível o quanto a maternidade contribuiu para o meu desenvolvimento profissional, porque existe uma Luciana antes da Sophia, e quem já trabalhou comigo antes sabe, e existe outra Luciana depois da Sophia.

[AeC] Você comentou que cresceu profissionalmente depois da maternidade. Quais aspectos você destaca que mudou na sua carreira depois de ser mãe?

[Luciana] Posso dizer que eu me tornei muito mais paciente, mais resiliente, mais compreensiva. Passei a entender que nem tudo é a empresa e para a empresa, e dou muito mais importância e valor ao que acontece efetivamente na vida das nossas pessoas, dos nossos colaboradores.

Eu escutei por muito tempo, inclusive eu usava muito essa frase, “deixe sua vida pessoal lá fora”. Isso não existe! E, depois que me tornei mãe, entendi melhor isso. Não tem como separar a vida pessoal da vida profissional, e vice-versa, porque você é uma única pessoa, singular, com sentimentos e interferências externas. E a maternidade mudou essa minha visão.

Um momento que me marcou muito foi no home office, durante a pandemia, aquela pressão, stress do momento, e eu em uma reunião com meus gerentes, falava alto, gesticulava, estava com a voz exaltada, e a Sophia, com 5 anos na ocasião, bateu no meu ombro e perguntou porque eu estava falando daquela forma, que eu poderia falar mais calma e contar a mesma coisa. Isso me fez refletir muito e entender que ela estava certa.

Então, muitas dessas características que um líder tem que ter de saber dosar, de ser mais compreensivo, as crianças ensinam pra gente.

[AeC] Você assumiu recentemente a Vice-Presidência de Operações. Como é assumir esse cargo, sendo mulher, e influenciar as pessoas?

[Luciana] Vou começar falando o seguinte: antes de SER precisamos ESTAR naquela posição. O que isso quer dizer? Eu sempre falo pro meu time e questiono o que “você está fazendo na sua posição atual que vai te destacar para você evoluir o cargo?”. Ou seja, as pessoas não podem ter dúvidas de que você deveria estar onde está. Então eu acredito muito nisso, que antes de ocupar uma posição, você precisa se posicionar nela. E foi assim que eu fui construindo minha carreira. 

Minha história começou como operadora. Eu galguei todos os cargos dentro do call center: operadora, supervisora, coordenadora, gerente, gerente senior, diretora e, agora, vice-presidente. E para viver toda essa “escadinha”, foi assim que eu sempre me posicionei. 

Enquanto supervisora, antes de ser promovida a coordenadora, eu já fazia funções que coordenadores faziam, já assumia a liderança com outros supervisores, tomava à frente em alguns processos. E acredito que é assim que deve ser feito se quiser dar o próximo passo.

[AeC] Como você enxerga e atua na sua liderança?

[Luciana] Eu acredito que a liderança deve ser pelo exemplo. Eu sempre fui muito transparente na minha gestão. Eu não tenho nenhum liderado que tenha ficado surpreso com decisões difíceis que tivemos que tomar. Porque eu sempre atuei com muita clareza e honestidade, com os feedbacks alinhados.

Todos sabem o que está acontecendo na nossa diretoria, na nossa vice-presidência, na nossa empresa. Nunca é surpresa, e não pode ser. Eu valorizo demais a transparência, a clareza, e valorizo demais as pessoas que se relacionam com todos os níveis. Eu faço questão de falar com todas as camadas, todos os meses. Está no meu DNA isso. Porque são eles que fazem o nosso negócio acontecer.

É isso que faz com que a gente vire referência, que faz com que as pessoas nos enxerguem como iguais. Não consigo entender como as pessoas sobem de cargo e esquecem de onde vieram, e esquecem da base da empresa. E eu trago muito isso pro meu time. Semanalmente, eu faço questão de conversar com os meus diretos, dando diretrizes, mostrando para onde a empresa vai, o que eu faria em cada situação, trocando ideias. É uma relação de muita intimidade, sem ser centralizadora demais, mas sabendo de tudo o que está acontecendo.

E eu sinto que estou aqui para transformar vidas, e isso me motiva. Ver as pessoas se desenvolvendo, crescendo na carreira, e saber que eu tive influência nisso, me deixa realizada. Vejo que meu legado profissional teve efeito na vida das pessoas, e isso é muito gratificante.

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